Filhos de Donald Trump criam empresa de mineração de Bitcoin e levantam questões de conflito de interesses na Casa Branca

11-01 , 18:38 ...

Em plena campanha presidencial, Donald Trump dizia que “com baixos custos energéticos, a América vai tornar-se numa potência mundial incontestável da mineração de Bitcoin”. Já na Casa Branca, o republicano ainda não oficializou a medida para concretizar os seus planos, mas o negócio das criptomoedas tem vindo a ser uma das maiores apostas da família Trump.

O que começou com a promoção da “TrumpCoin” rapidamente se transformou na criação de uma reserva nacional de Bitcoin. Agora, Donald Jr. e Eric Trump, filhos do Presidente, dizem estar “apaixonados” pela moeda e decidiram juntar esforços e criar uma empresa dedicada ao processo de mineração: a American Bitcoin.

As últimas semanas têm sido de grande divulgação do novo “bebé” Trump, com passagens por diferentes conferências em Las Vegas e em Toronto, no Canadá. Para além do dinheiro, a maior motivação para enveredar nesta aventura terá sido o aproveitamento das condições favoráveis permitidas pelas políticas do pai. “Estamos a fazê-lo na América com um governo que se dedicou à energia barata. Temos a melhor política energética no nosso país. E só vai ficar melhor”, afirmou Eric Trump, citado pelo New York Times, admitindo que as medidas da administração Trump dão à empresa uma “vantagem competitiva”.

Com o aumento da aposta do governo norte-americano nas criptomoedas, elevam-se questões de possíveis conflitos de interesse no portefólio de negócios da família do Presidente. Sabe-se que a valorização da Bitcoin, como as restantes moedas, é extremamente volátil e, por vezes, alterada após declarações de Donald Trump. A Casa Branca, questionada sobre a situação, defende que o Presidente não tem qualquer conflito de interesse nesta matéria, uma vez que os seus ativos foram colocados num fundo que está a ser gerido pelos filhos.

Este ponto é também defendido pela administração da American Bitcoin, que olha para Eric Trump como um “empresário privado” e não como filho do Chefe de Estado. Um porta-voz da Hut 8, uma empresa de criptomoedas que está na base do negócio de mineração, indica que o papel do segundo filho Trump na American Bitcoin é de “fornecer perspicácia comercial”. Eric Trump, oficialmente, é o diretor de estratégia, e Donald Trump Jr. controla uma “entidade” que detém 20% desta nova empresa.

“Como qualquer indústria e empresa nos Estados Unidos, beneficiamos das políticas pró-empresas da administração [Trump]”, sublinha o porta-voz Gautier Lemyze-Young, salientando que o envolvimento dos irmãos Trump “não está relacionado com política”. Não obstante, Eric diz estar “incrivelmente orgulhoso” da empresa que fundou, referindo estar a “minerar o sonho americano”.

De acordo com o New York Times, a American Bitcoin tem na sua posse 215 Bitcoin, num valor aproximado de 19,6 milhões de euros. “Eles estão no negócio porque querem fazer dinheiro”, defende a congressista Maxine Waters, que ocupa o cargo mais elevado dentro do Partido Democrata no Comité dos Serviços Financeiros da Câmara dos Representantes, alegando que, “de muitas maneiras, é um conflito [de interesses]”.

O processo de mineração ou extração é, essencialmente, a verificação de transações que, posteriormente são adicionadas a um registo totalmente digital e descentralizado, a blockchain. Para começar a minerar criptomoedas é preciso uma “enorme” poder de computação para conseguir correr estas “minas” — daí o negócio ser compensado com uma redução dos custos de energia. A recompensa para este trabalho de mineração é precisamente a “criação” de novas moedas, que são transferidas diretamente para a carteira de quem as minerou.